Assim se passam os dias

Longe bem longe o canto da cigarra

Rondando, anunciando o anoitecer,

Numa lembrança que me traz você

(Ah! Abrias a rua na guitarra!)

A vida é pobre, às vezes triste

Mas numa canção vemo-nos contente

O homem abre o peito, porque entende

Que, no mundo, o amor ainda existe

É tão bonito, meu Deus, este canto

Que abro os olhos no meio da noite

Enquanto a lua e as estrelas dormem

Vejo o frescor do ar e o sinto tanto,

Que celebro da insônia este açoite

Pois se as tristezas vêm, um dia morrem...

Mulher é amor

Sei que poeta é mui sonhador

Ainda mais se é amante da lua
E quando ela surge e diz: “Sou tua”?
Ah, passa o poeta a brincar de amor

O coração desanda em bem-me-quer
Abre a boca tal pássaro faceiro
Pinta-se de amores como o primeiro
E se o poeta é uma mulher?

Mulher anda apaixonada ao luar
Veste-se de branco ainda de dia
Tão menina, tão linda em fantasia

Mulher é dona da palavra amar
Ela se enche de vida por amor
E tem sempre a beleza d'uma flor

Passarinhando

Foto Google

Belos são os pássaros em revoada

Pros cantos imensos do Piauí

Canário, beija-flor e bem-te-vi

Sem gaiola, baladeira ou pedrada

Juntinhos, irrompem a dar concertos

Em carnaúba jatobá indaiá

Onde o sol amante prende-se a olhar

E neste manto azul de rumos certos

Ganham rios, chapadões e cidades

Ao longo desta terra do Equador

Numa festiva voz de trovador

Abrem o peito em verdes liberdades

Trinam pela imensidade do ar

Na mais particular expressão de amar

As noites no sertão

Que gostosos são os dias de verão

A beleza da lua _ pura e clara

Que meu olhar arrebatado depara

Iluminando as noites do sertão

Às vezes cintilam os pirilampos

Outras vezes estrelas bem baixinho

Apontam pelas bandas do caminho

Numa eterna fidelidade aos campos

Em tudo, o som da sanfona e tanto

Que a cabocla bêbada pelo encanto

Namora à varanda _toda brejeira

Nestes luares, ouvem-se histórias

Dos causos de boiadas_ ricas glórias

Que segredo no coração_ faceira

Foto Google

Flores amarelas

Havia um jardim com flores amarelas

Não sei se eram todas margaridas

Se estavam entre os girassóis perdidas

Sei que meus olhos prenderam-se nelas

E parei de súbito deslumbrada

Minha alma povoada de sonhos

Esquecida de meus dias tristonhos

Ante aquarela tão bela na estrada

Não posso contar tanto do jardim

Ainda é segredo para mim

Como flores cultivam tons do sol

Pois a cena num instante passou

O céu tingiu-se em ouro mais e mais

Deixando esta imagem para trás

Poema pro sertão

O céu logo cedinho se derrama

Em desenho azul por todo o caminho

Chega o sol no alto com sua chama

E comanda a aquarela com carinho

O ar do sertão se enche de flores

E o cheiro se alonga porteira afora

Formando uma quadrinha de cores

Sem compromisso sem nome da hora

Todo passarinho marca o compasso

O reco-reco com o sabiá

Ensinam da pintura o passo

E quando mais tarde a lua aparece

Grilos cantam pra cena cochilar

Feitos filhos que fazem uma prece

Foto da localidade Piranhas - PI

Minha casa no sertão

Minha casa tão farta de lembranças

Já foi de meus avôs e de meus pais

Nela pintei o chão o teto e muito mais

Hoje é paço de minhas crianças

Remando com as pedras do caminho

E com diversas flores do lugar

Esta casa é meu abrigo meu lar

Aqui durmo traquila... é meu ninho

Nas tardes em que me visto de azul

Fico lembrando de amigos do sul

Mas fico melhor se penso no norte

É que meu cajueiro traz-me sorte

Foi plantado quando vim ao sertão

E da varanda o avisto no portão

Dias e noites

Foto Google

Em meus pensamentos ao amanhecer

Há tanta luz com flores entregues ao dia

Que me olvido da noite em nostalgia

Sinto que o céu vai me trazer você

Os olhos a banir a noturna hora

E o coração arrebatado em cores

Guia meus pés nesse campo de flores

Em que meus sonhos caminham agora

Ah, meu amor! Sua boca é doce vinho

Não me negue um afago um carinho

Não se abotoe nesse seu silêncio

Deixe o alvorecer de meu amor imenso

Ser sua luz as flores no caminho

Vem!  Meu seio é porta aberta- é seu ninho!

Foto Google

 Lembranças

Abre-se uma cheia imensa lua

Sem destino no céu; atiçando-me a alma

Chovendo um fogo em mim na noite calma

E sob as luzes das estrelas a rua

Charmosa rua que sempre sorria

A nosso amor; onde à noite em teus braços

Ouvia nossas juras nossos passos

Onde em beijos numa calçada fria

Lançavas meu corpo em chama ardente

Ah, ela vive em mim eternamente

Como um castelo secular antigo!

Cativa a meu peito nutro comigo

E nas noites em que fito o luar

Aporta-me essa lembrança de amar

Os bons ventos do sertão

Aqui onde moro é longe do mundo

Mas sempre o vento corre favorável

Entre os galhos içando a voz amável

Colhendo os frutos prontos, num segundo

Os olhos das mocinhas à janela

Tais retratos duma florida tela

Relembram de namoros ao portão

Quando do pai se tinha permissão

O chão, as casas, as pracinhas com flores

Onde os velhos contam de seus amores

Pincelam em mim uma tinta amada

E em meus olhos não caminha mais nada

Já tenho um céu azul um branco luar

E um bem querer no peito para amar

Fidelidade

                                                  Foto Google

Fiel! Minha alma te tem no peito

Certa que te amou até tua morte!

Olhou teu corpo deitado no leito

O verso- vivo! O corpo- sem norte!

Como morta em instinto animal

Sobrevivo apenas- na poesia

Que vale a vida sem madrigal?

Colho as horas mortas- fim do dia!

Aqui estou... Quanta aflição na alma

Seguindo... Sem teu olhar sem tua calma

Por vezes uma angústia invade-me

E tão íntima profunda saudade

Desenha-me um céu turvo pesado

Querendo me levar a ti, meu amado!